ONU avalia sistema dos apanhadores de sempre-vivas
Social

ONU avalia sistema dos apanhadores de sempre-vivas

ONU avalia sistema dos apanhadores de sempre-vivas

Técnicos da FAO estiveram em Diamantina para conferir o sistema agrícola tradicional, que pleiteia certificação internacional

imagem de destaque
Foram dois dias de trabalho em Diamantina. Avaliação final acontecerá ainda em 2019

Comunidades tradicionais de apanhadores de flores sempre-vivas, espécie nativa da Serra do Espinhaço, no Vale do Jequitinhonha, estão perto de conseguir o reconhecimento como Sistema Agrícola Tradicional de Importância Mundial (Sipam). O selo é concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de sua Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A agência lidera os esforços internacionais para erradicação da fome e da insegurança alimentar e dá especial atenção ao desenvolvimento das áreas rurais, onde vivem 70% das populações de baixa renda no mundo e que ainda passam fome.

Os grupos tradicionais preservam técnicas seculares de manejo da terra e desenvolvem em seu território uma relação sustentável com a natureza. O reconhecimento da FAO será uma valiosa conquista para as comunidades Pé de Serra, Lavras, Macacos, Vargem do Inhaí, Mata dos Crioulos e Raiz, as três últimas quilombolas, localizadas nos municípios de Buenópolis, Diamantina e Presidente Kubitschek.

“Trata-se de um reconhecimento de extrema importância não apenas para Minas Gerais, mas para o Brasil. No mundo, somente 57 sistemas conquistaram este selo até hoje. Desse total, apenas três na América Latina”, explica Márcia Bonetti, coordenadora técnica estadual da Emater-MG, instituição vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

Um comitê científico da FAO esteve na região 28 e 29/7 para avaliar a pertinência da candidatura ao selo, o envolvimento dos governos local, estadual e federal, da Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas (Codecex) que representa os apanhadores e das universidades. O representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, ressalt a importância de todas as instâncias trabalharem juntas no processo de certificação. “O desafio é fazer funcionar este mosaico institucional. É uma grandiosa oportunidade para criarmos um exemplo do Sipam a ser seguido no Brasil e até na América Latina”, observa.

Essa também é a avaliação do coordenador do grupo de pesquisadores do Sipam, Mauro Agnoletti, que reforça a importância dessa sinergia. “Estou bastante impressionado com a participação das autoridades públicas em todos os níveis. O importante agora é comunicar ao mundo o que vimos aqui. Precisamos convencer pessoas como eu a vir e se apaixonar pelo lugar. Toda essa produção tradicional raramente tem acesso ao grande mercado”, destaca.

Para conquistar o selo, as comunidades ainda precisam vencer algumas etapas. A primeira ocorreu no ano passado, quando formalizaram sua candidatura com a entrega de um dossiê à FAO Brasil. A solenidade foi durante o I Festival dos Apanhadores e Apanhadoras de Flores Sempre-Vivas, realizado em junho de 2018, em Diamantina. A candidatura recebeu o apoio de pesquisadores, acadêmicos e membros de órgãos públicos que ajudaram a construir o documento. A avaliação final acontecerá em mais um encontro, ainda este ano, em Roma, capital italiana.

Visita

No primeiro dia dos trabalhos, uma comitiva, composta pelo avaliador e por representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da FAO Brasil, da Codecex, da Emater-MG, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), da Seapa, e a pesquisadora da USP Fernanda Monteiro, percorreu a comunidade Mata dos Crioulos para conhecer as particularidades deste sistema agrícola tradicional. A pesquisadora mineira ficou otimista em relação à impressão causada nos avaliadores. “Foi possível conhecer, entre outras coisas, a belíssima cultura alimentar que o pessoal dessa região possui. Acredito que os avaliadores puderam compreender a grandiosidade do sistema”, ressalta Fernanda.

À noite, o grupo foi recebido pelos prefeitos, pelo secretário de Estado de Cultura e Turismo (Secult), Marcelo Matte, e pela secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Ana Valentini, para um jantar preparado com produtos locais pela chef Tanea Romão, em parceria com cozinheiras das comunidades. Marcelo Matte deixou clara a intenção da Secult em apoiar essa atividade econômica exclusivamente mineira e tradicional. “Vamos trabalhar em políticas públicas capazes de garantir a dignidade dessas comunidades. O programa da FAO reforça a importância que esses grupos têm para Minas e para o mundo”, afirma.

Crédito: Gil Leonardi/Imprensa MG

A secretária de Agricultura, Ana Valentini, também fez questão de destacar a importância de se trazer o selo para o Brasil. “Ele vai chamar a atenção para a necessidade de envolvimento de todos na preservação da história do sistema dessas comunidades, dessa cultura riquíssima, que vem de muitas gerações”, sinaliza.

De acordo com a presidente do Iepha-MG, Michele Arroyo, o sistema agrícola tradicional também tem relevância como patrimônio cultural. “Temos muito a aprender com as comunidades para conseguir contar e registrar esses saberes e patrimônio cultural como um processo dinâmico, que no caso se chama ‘Plano de Salvaguarda’”, comenta.

No segundo dia de missão em Diamantina, o governador Romeu Zema confirmou o interesse do Estado em apoiar a candidatura ao selo. “A iniciativa é totalmente procedente, importante e relevante. Nós queremos ser o promotor do desenvolvimento e de melhorias para quem quer trabalhar”.

O sistema

Os apanhadores de flores sempre-vivas habitam a porção meridional da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais. Além da coleta das flores, as comunidades realizam outras atividades produtivas que garantem a complementação de renda e segurança econômica e alimentar, como roças, criação de animais e coleta de produtos do agroextrativismo, a exemplo de frutos e plantas medicinais.

O grupo integra uma categoria de comunidade tradicional, certificada pela Comissão Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais (CEPCT-MG) e amparada pela Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais.

As características do Sistema Agrícola Tradicional dos Apanhadores de Flores Sempre-Vivas que possibilitaram a candidatura ao programa da FAO são a utilização combinada de diferentes altitudes, que vão de 600 a 1.400 metros de altitude; elevada biodiversidade; conhecimentos tradicionais sobre o uso das áreas, gerando distintos agroambientes que resultam em paisagens manejadas; abundância hídrica; reserva de biodiversidade nativa; biodiversidade agrícola; e riqueza cultural.

Social

Mais notícias da Categoria Social

Seds já emitiu mais de 300 carteiras de identificação da pessoa com autismo

Seds já emitiu mais de 300 carteiras de identificação da pessoa com autismo

Portal Uberaba 08/02/2023
Juntos vamos vencer a fome! Para combater a fome e a miséria, a LBV inicia mobilização nacional

Juntos vamos vencer a fome! Para combater a fome e a miséria, a LBV inicia mobilização nacional

Portal Uberaba 16/11/2022
“As Organizações da Sociedade Civil de Assistência Social e a efetivação dos direitos socioassistenciais” é tema de congresso on-line

“As Organizações da Sociedade Civil de Assistência Social e a efetivação dos direitos socioassistenciais” é tema de congresso on-line

Laura Sousa 29/08/2022
Bibi investe em transformação digital e eleva vendas em 30%

Bibi investe em transformação digital e eleva vendas em 30%

Laura Sousa 09/08/2022
Menina estuprada em Santa Catarina consegue interromper a gravidez

Menina estuprada em Santa Catarina consegue interromper a gravidez

Portal Uberaba 23/06/2022
IEATM e Sicoob Uberaba promovem Arraiá Solidário

IEATM e Sicoob Uberaba promovem Arraiá Solidário

Portal Uberaba 06/06/2022