Setor Braille da Biblioteca Estadual completa 55 anos
Referência em inclusão sociocultural no país, espaço conta com rico acervo e ferramentas para acesso à web
A diretora da biblioteca, Alessandra Gino, lembra que o espaço, fundado em janeiro de 1965, tem funcionamento ininterrupto desde então e contempla o público com um acervo que inclui livros acessíveis em Braille, áudio livros, equipamentos adaptados e atividades de incentivo à leitura.
Origem
“O primeiro passo para viabilizar o setor da biblioteca foi dado em 1954, quando Juscelino Kubistscheck já vislumbrava ‘um espaço polivalente de ações culturais e convivência que atendesse à toda população, incluindo as pessoas com deficiência visual’”, revela Alessandra.
O setor, no entanto, foi criado a partir da transferência do acervo existente na antiga Feira de Amostras, durante o governo de Magalhães Pinto. A partir daí, ressalta ela, o espaço passou a ser um importante polo de leitura acessível. “Para além do acervo em si, é um local de trabalho e convivência fundamentado nos princípios da promoção humana, do voluntariado e da inclusão social, que tem como objetivo oferecer às pessoas com deficiência visual acesso irrestrito à cultura e à informação”.
Acervo e público
Cerca de 1 mil pessoas com deficiência visual (cegueira e baixa visão) frequentam o espaço por mês. “O público é diversificado e traz diferentes demandas individuais: estudo para concursos, leitura de materiais científicos, leitura de textos em formatos digitais, gravação de apostilas, empréstimos de livros em Braille, áudio livros e filmes com áudio descrição, uso de tecnologias assistivas e outros”, destaca a diretora.
O acervo inclui obras literárias de autores brasileiros e estrangeiros nos mais variados formatos (cerca de 2 mil títulos em Braille, 2 mil áudio livros e, aproximadamente, 70 filmes com áudio descrição), contemplando diversidade em conteúdo e áreas de interesse.
Atividades
Coordenador do setor e cego desde os 13 anos, Glicélio Ramos Silva chama a atenção para as atividades abertas ao público realizadas no espaço. “Há o “Tempo para Ler”, projeto que consiste na leitura de um autor/autora, seguido de bate-papo sobre vida e obra; o “Clube de Leitura”, atividade trimestral também relacionada à discussão de obras literárias, e o “Café com Poesia”, com edições realizadas a cada semestre com apresentação de poemas, textos e músicas, um sarau misto. Após a declamação e leitura, oferecemos lanche para os presentes, uma confraternização”, explica.
Glicério aponta sucessos entre o público Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Raquel de Queiróz e Aloísio Azevedo, e novidades de momento, como a série Cinquenta Tons de Cinza e o livro A Cabana, entre outros. “Eu mesmo já devo ter lido mais de 100 títulos daqui”, comenta. Os empréstimos, afirma ele, têm prazo de devolução ou renovação especial. “Devem ser renovados a cada 14 dias (inclusive por telefone) e, para garantir o uso de equipamentos, boa sugestão é agendar um horário com antecedência. Assim, o usuário garante que seu lugar estará marcado”.
Convite
A diretora Alessandra Gino destaca que o setor é referência em acervo e equipamentos disponibilizados. “Somos reconhecidos pela dedicação e persistência, atenção a parcerias e oportunidades que possibilitam a ampliação dos recursos, confecção de material em Braille, expertise dos funcionários e apoio incondicional do nosso quadro de voluntários”. Ela conta, ainda, que, por meio do edital de acessibilidade lançado pelo antigo Minc, em 2014, o Setor Braille recebeu capacitações, acervos e equipamentos assistivos para se tornar referência em acessibilidade e inclusão, multiplicando o modelo para as demais bibliotecas públicas do estado.
“Queremos convidar a todos que ainda não utilizam os serviços oferecidos para visitar e usufruir do espaço que realiza um trabalho de inclusão sociocultural que transcende o incentivo ao gosto pela leitura. O Braille é, hoje, um ponto de convivência em que as pessoas têm suporte para realizar suas ações diárias com autonomia”, avalia.
Equipamentos disponibilizados no Setor Braille:
Impressora Braille: Permite a produção de livros no próprio espaço em etapas que envolvem a transcrição de obras, escaneamento do texto, revisão, leitura em tinta, conversão do texto para o software da impressora, impressão. Atualmente, o setor conta com cerca de 40 obras ali produzidas.
Máquina de datilografia em Braille: Possibilita escrever em Braille de forma mais ágil do que a reglete. As máquinas também são utilizadas como suporte nos cursos de escrita e leitura em Braille oferecidos pela biblioteca.
Lupa eletrônica: Sistema de ampliação de imagens captadas por uma microcâmera alojada em um dispositivo parecido com um mouse de computador e que é usado ampliar uma imagem a em até 50 vezes, em preto e branco ou colorida.
Lupa eletrônica portátil: Possui um visor que, posicionado sobre o texto ou imagem, exibe o seu conteúdo de forma ampliada.
Reglete e punção: Consiste em uma régua que contém as celas do alfabeto Braille, para que qualquer letra possa ser escrita, utilizando-se para isso a punção. Foi um dos primeiros instrumentos criados para a escrita no sistema. Apesar de antiga, é muito usada por ser leve e fácil de carregar.
NonVisual Desktop Access( NVDA): É um programa que lê o Windows, codificando os signos em sons, para promover a inclusão digital de deficientes visuais. O programa permite a leitura de qualquer texto e está disponível em até 20 idiomas diferentes. Permite, ainda, o contato virtual entre o deficiente visual e o público que enxerga, pois dispõe de atalhos no teclado para ativação e desativação.
Programa Jaws: Sistema de leitura de telas no computador e sintetizador de voz para reconhecimento de comandos efetuados por parte do usuário. Dispõe de comandos para facilitar o uso de programas, edição de documentos e leituras de páginas da internet.
Linha Braille: Também conhecida como Display Braille, é um hardware que exibe dinamicamente em Braille a informação da tela, ligado a uma porta de saída do computador.
Book reader: Trata-se de um modelo de scanner que consegue ler em voz alta o conteúdo da página digitalizada. Proporciona autonomia às pessoas com deficiência visual que podem ter acesso à literatura, assim como materiais didáticos de cursos e concursos.
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